terça-feira, 16 de agosto de 2011

Uma cachoeira no meu peito


Essas tantas coisas das quais não se dão os nomes,
que se embolam na garganta e inundam nossa face,
que parecem ondas noturnas batendo nas paredes do estômago,
que afogam o pudor e enaltecem a libido.
Essas tantas coisas de tantas vezes repetindo sem parar enquanto somos vivos.
E quando somos dois mais ninguém existe, só notamos “nós” até ficarmos sós e voltarmos a “seres” quase vivos, quase mortos de vergonha e medo, quase sempre atingidos.
Retraídos,
transbordados de passados.
Quase tudo vira quase nada
e quase sempre eu vivo quase triste.
Quase na metade do caminho,
no prefixo,
no exílio do sentido,
na ausência da palavra,
no consolo da lembrança,
no silêncio da esperança.
Essas tantas tintas que nos turvam a retina,
Que torturam a insônia
E solidificam a poeira ao nosso redor.
Essas tantas coisas que materializam os sentimentos,
e que não sabemos como explicar.
Como abordar de forma branda
tais cascatas tão violentas ?
Uma cachoeira no meu peito.
E eu sem saber que nome dar...         

Eu e esse tempo todo...


Que venha o tempo, venha por toda via que houver, todavia me deixe apenas um pouco de vida pra que eu lembre de tudo que havia antes de você chegar.
 Que venha o tempo com a força de um tufão, um vento forte a balançar as roupas nos varais, a me levar pras fronteiras de Minas Gerais.
Que venha o tempo, mesmo, todo poderoso, sem pedir licença, com toda a pompa que lhe veste e a imponência que lhe cabe.
Eu caibo no espaço vago, neutro e alheio a fatos. Sem opinar, sem imagens e sem fotos, quase monocromático, sentado na varanda a divagar sobre esse tempo turvo da minha vida.
Estou quase cego, quase surdo, já não falo, pouco sinto, quase morto. Eu estou letárgico!
Quando vier o tempo e me levar às vértebras, quando me levar os joelhos e me deixar às dores, eu não vou me entristecer, me deixe ao menos o suficiente pra lembrar.
E que venha o tempo final, eu não o temo, entre por toda a fenda que achar, eu vou sorrir, eu não vou me ofender, que sobre ao menos o tempo de sermos amigos em silêncio mesmo, sem nem precisar falar.